terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Você já conhece este badalar.

Segui até o balcão de atendimento. Solicitei meu número. Ela perguntou a ocasião. O ano que termina, oras. A situação não poderia ser mais óbvia, mas acabou se tornando. O retrato disso era o mar de blusas, vestidos e shorts brancos. Alguns com detalhes em dourado, outros com brilhos prateados. Era assim que devia ser, pensei. A vendedora fora instruída a nos mostrar aquelas peças. E nós, instruídos a vesti-las. Ora bolas, as coisas são como são. Mas não. Não são mesmo. Branco definitivamente não é a cor mais apropriada para o ano que termina. E nem o rosa ou vermelho desejando um novo amor, nem o amarelo ambicionando riquezas e muito menos o azul que pede por tranquilidade. O ritual deveria ser outro. O azul deveria ser o encharcar das lágrimas e decepções que vivenciamos nos dias turbulentos. O amarelo deveria representar aquilo que desbotou a nossa alma, aquilo que se desgastou ou o suor que ficou na roupa ao arregaçar as mangas no ato de um esforço necessário. O vermelho deveria ser o sangue derramado pelas violências mundanas, ou quem sabe na demonstração de feridas que gotejaram de dentro para fora, mas que nos mantiveram vivos, demonstrando que somos sobreviventes das feridas que nos acometeram. E aí vem o salmão, o roxo, o preto, mas o branco? O branco não. O branco é muito puro e limpo. Para o fim do ano eu quero é uma roupa que esbanje toda essa sujeira que me fez chegar até aqui. E aí sim, deveríamos nos despir completamente no badalar da meia noite. No sino que assinala uma passagem. O som de uma liberdade nua que me permite, novamente, escolher o que vou vestir.

sábado, 16 de novembro de 2013

João e Maria

- Eu não posso adivinhar o que se passa na sua cabeça. Disse João.

É verdade, não pode mesmo. Mas as vezes você não percebe que eu te conto em migalhas. Faço isso porque não sei entregar por inteiro o que eu não soube traduzir nem mesmo quando eram apenas frações. Faço isso porque de todas as dores, escolho as menores porque sei que quando não sou eu quem estou a escolher, a minha opção é apenas aguentar. Faço isso por olhares que exclamam estilhaços da alma. Faço isso por sorrisos que não saem completos, ficam presos no meio do caminho. Faço isso por silêncios que não conseguem disfarçar-me em palavras. Faço isso por distâncias que prolongam os intervalos do tempo que o estive por perto. Faço isso por migalhas, como essa aqui. Basta saber se você vai conseguir catá-las a tempo de encontrar o caminho certo. 

Respondeu Maria, cansada de estar perdida. 

Over my head.

Estive esse tempo todo escutando uma música que traduzia o significado que eu não sabia que já conhecia. Esse tempo todo, estive escrevendo textos sobre coisas que já estavam previamente escritas. Esse tempo todo, estive ouvindo a música que dava voz ao que calava no meu coração. Estavam o tempo todo aqui, na minha cabeça. É sobre isso que estou tentando falar, é isso que sempre volta e isso de que não consigo me livrar. É sobre o que está na minha cabeça. Não consigo me livrar da confusão, dos conflitos, das situações que não saem da minha cabeça. 

É pra quem eu corro, é quem me recebe me braços abertos, é com ela que eu choro, é com ela que eu escrevo, é com ela que eu me consolo, mas também com ela que fico inconsolável, é ela que atravessa a camada mais profunda do que está na pele para arrancar arrepios do que está invisível. É ela, é essa música. É sobre ela, é sobre mim, é sobre tudo, é sobre isso. Sobre o que está na minha cabeça. 

"Everyone knows I'm in
Over my head"

sábado, 26 de outubro de 2013

Espinhos gelados pra você!

Estou tão, mas tão, mas tão aborrecida que seria capaz de arrancar com os dentes os botões de uma camisa. Tão, mas tão aborrecida que amassaria em bolinhas folhas de um caderno inteiro. Tão, mas tão aborrecida que gritaria o alfabeto alemão no travesseiro. Mas tão aborrecida que rabiscaria de lápis colorido uma parede inteira, BRANCA.

E um palavrão pra você que ousa acusar minha infantilidade. Um palavrão pra você que não entende que o que me deixa _ _ _ _ é porque estou pedindo uma atenção que eu quero só de você. E veja bem, meu bem, quem me trouxe como criança foi VOCÊ que escolheu não dar o colo. Então agora você aguenta, porque se despertar a rebeldia da versão adolescente, aí sim você vai ver como eu sou briguenta.


sábado, 12 de outubro de 2013

Brigas sem brigar

Ela queria uma comédia  romântica. Ele insistia em um terror barato. Discutiram. Ninguém ficou com o controle. Leu uma postagem preconceituosa. Mostrou pra ele, indignada. Ele tentou justificar aquele ponto de vista. Ela ficou perplexa com a tentativa. Ele disse que ela estava sendo radical. Discutiram. Ambos engoliram suas opiniões. Mais tarde, no mesmo dia, ela disse que ia pedir tapioca, pronta entrega. Ele reclamou, preferia pizza. Aborrecida, ela explicou pela milésima vez o quanto odiava aquele tipo de gordura. Ele rebateu, disse que era frescura. Discutiram. Cada um fez seu miojo. Dia difícil. Estavam naquela fase. Naquele clima. As coisas pareciam sem solução. As insatisfações ficavam agarradas na garganta. A noite chegava ao fim. 

_ Você quer me dizer algo? /Ela disse.
_ Eu amo você. /Respondeu.

E toda aquela confusão silenciou dentro dos dois. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

...

Os rascunhos se acumulam. Os papéis rabiscados começam a lotar o lixo. A agonia atravessa a mente. E o aperto dói no coração. Eu amo escrever. Amo tanto que tenho medo de libertar as palavras que se debatem dentro de mim. O temor de perder a prática ou de descobrir que ela nunca beirou a dignidade suficiente para eu chamá-la de minha está gritante.

domingo, 6 de outubro de 2013

(Minha?) Palavra tem poder

Desejei que fosse feliz. Não decepcionou. Mais uma vez tratou de realizar minha vontade. Parabéns aos envolvidos. Quanto ao convite, vou ter que recusar. Mas se quiser me enviar de volta as vibrações, eu agradeço. Tô precisando de forças positivas para resolver esse briefing aqui porque olha, tá fácil não.